nada é vago quando penso em nós
e muito menos sou vago neste sentir
que preenche o espaço onde não estás
mas desde a última vez
aquela, quando o comboio partiu
fiquei só num vagão vago, desatrelado
ainda atirei os braços
mas era longe a distância de abraço que segurasse
ainda voei num beijo mas o ar desviou-o
ainda gritei por ti mas o ferro foi mais ruidoso
ainda corri, corri, corri
em linha (cor)recta, pela linha
mas já só vi o fim
e quando lá cheguei tinhas partido
nem o fumo de queimares tudo sequer vi
talvez tenhas comprado bilhete de avião
ou de um qualquer comboio super rápido
mas nem tudo é mau
pelo menos para mim
aproveitei o velho comboio a lenha
que deixaste quente
para seguir viagem
e é devagar que vejo tudo melhor
até que chegue à casa de madeira
no topo da montanha mais bela sobre ti
e sentar-me-ei na cadeira do alpendre
a contemplar
e não
nunca estarei vago
apenas cheio-vazio



02-12-2024